Imagino que um tratado filosófico ou científico não seja o ideal para este momento. Até porque existe uma forma mais prática de fazer com que toda esta ciência faça diferença na sua vida.
Vamos começar explorando suas memórias.
Se você retomar sua história, certamente conseguirá se lembrar de pessoas que, desde a infância, assumiram um papel de liderança nos grupos em que você esteve inserido. Vou te ajudar.
Lembra de algum líder de turma da sua escola?
Lembra de alguém que sempre dava boas ideias na hora de brincar na rua?
Quando decidiam aprontar alguma travessura, você pensava: ?Se Fulano está indo, eu também vou!?
Em especial, neste último exemplo, você consegue explicar o motivo pelo qual a presença de Fulano lhe dava coragem ou era decisiva quanto à sua participação?
Se não conseguir explicar o que te motivava, tudo bem. A maioria das pessoas não vão conseguir mesmo. Talvez nem mesmo o Fulano entenda até hoje o porque tinha tanta influência sobre seus amigos da rua.
Mas estas pessoas que marcam nossas lembranças (e que talvez, seja você), são a demonstração de que algumas competências de liderança se expressam mesmo nos primeiros anos de vida.
A professora da minha filha já comentou que ela exerce liderança em meio aos seus colegas. E esse comentário surgiu quando ela tinha pouco mais de dois anos.
E posso afirmar, para mim não foi surpresa! Eu estou criando ela para isso.
Mas aos dois anos?
Não, desde que nasceu!
E agora você deve se perguntar: Como saber se é a educação que a torna uma líder, ou se ela apenas teria nascido assim?
Bom, pra falar a verdade, eu não sei. Quero dizer, não sei com exatidão quais são as características inatas. Posso descrever algumas, mas não todas. Até porque, nesta idade há uma variação de comportamento muito grande, devido às fases pelas quais as crianças passam.
Mas posso dizer que sei exatamente o modelo de educação proposto para o desenvolvimento de suas características de liderança. E neste ponto, procurando favorecer o que nasceu com ela, e ensinar coisas novas.
Existem dois conceitos que você precisa entender sobre o desenvolvimento de competências e habilidades sociais. E isso não vai fazer diferença apenas para a criação de filhos. Na verdade, isso tem muito haver com as suas próprias competências.
Preste muita atenção nisso, pois é o primeiro passo para entender o seu próprio desenvolvimento.
O primeiro conceito é a filogenética.
Esta, se refere à características fisiológicas e comportamentais que favorecem a aquisição e aperfeiçoamento de determinados comportamentos. É basicamente a parte com a qual você nasce.
O segundo ponto, é a ontogenética. Esta é a parte das habilidades que são construídas ao longo de suas experiências. Para isso você precisa estar exposto a ambientes naturais que favoreçam esta construção. Como falamos de habilidades de liderança, estas oportunidades estarão dispostas em ambientes como a escola, família e espaços de lazer.
O sucesso desta construção depende de três processos interdependentes: a modelação, a instrução e a consequenciação.
Pretendo abordar estes três processos em outro artigo, mas acho que seria bom adiantar alguma coisa.
Como citei, o ambiente familiar é naturalmente um ambiente de construção de habilidades sociais ligadas à liderança. Mas para que isso ocorra, este ambiente deve prover condições que estão estabelecidas nos três processos que citei.
Desta forma, uma criança que cresce em um ambiente familiar de pouco estímulo e com processos educativos baseados em punições, não está sendo exposta aos processos necessários para o desenvolvimento das características de liderança. Mesmo que sua filogenética lhe proporcione isto.
Então vem o terceiro conceito, que se faz muito importante, pois depende da adaptação dos dois primeiros. É a cultura.
A cultura determina o valor de cada conduta. Quais padrões de comportamentos podem ser tolerados, reprovados ou valorizados.
Um líder com padrão elevado de dominância e autoritarismo pode ser eficiente em culturas militares, mas pode se frustrar, ou ser reprovado se tentar aplicar o mesmo repertório de comportamento ao liderar uma startup.
Então, como se cria um líder nato?
A resposta mais direta é: estabelecendo um ambiente para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas habilidades inatas, e oportunizando o aprendizado e treinamento de novas.
Isso significa que as características inatas podem ser vistas como vantagens, mas, considerando todo o processo de desenvolvimento, estas vantagens não são necessariamente decisivas.
Uma pergunta que sempre surge, quando trato do assunto, é:
E se a pessoa nascer sem nenhuma característica filogenética de liderança.
Primeiramente, acho que seria muito difícil nascer sem características de liderança, pois liderar é um construto com bases nas habilidades sociais. Logo, é fundamentada em características básicas do ser humano.
Mas, supomos que esta variável fosse zerada e a pessoa nascesse como uma página em branco.
Anulamos a variável filogenética e exploramos os outros dois fatores, o ontogenético e o cultural.
Como? Basicamente educando e treinando habilidades sociais que tornarão o indivíduo um líder.
E o mais interessante, é que, embora eu tenha usado aqui, como exemplo, a criação de filhos. As habilidades e competências sociais ligadas à liderança podem ser aprendidas e treinadas em qualquer idade.
Isso porque quando o ambiente natural não é favorável, podem ocorrer falhas na aquisição das habilidades. Isso pode resultar inclusive em problemas de comportamento. Assim, através de reestruturação de processos de aprendizagem e desenvolvimento é possível corrigir e desenvolver um repertório de comportamento baseado em competências.
Para deixar claro, um líder pode ser ?criado? em qualquer fase da vida, independente das características inatas. Embora estas sejam importantes, as competências podem ser treinadas conforme a necessidade de cada indivíduo em sua realidade.